museu da tolerância

são paulo - sp

2005

equipe:

arq. luciano cersósimo

área edificada: 5.200m²

 

“Concebo na espécie humana duas espécies de desigualdade: uma, que chamo de natural ou física, porque é estabelecida pela natureza, que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito, ou da alma; a outra, que se pode chamar de desigualdade moral ou política, porque depende de uma espécie de convenção, e que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo consentimento dos homens”. – Jean-Jacques Rousseau

 

INTRODUÇÃO

A importância do resgate, preservação, divulgação e debate contínuo de pensamentos e idéias para obtenção de um conhecimento crítico resulta na criação de um espaço vivo – um espaço de aprendizagem e convívio das diferenças, o Museu da Tolerância.

Este espaço deve, ao mesmo tempo, permitir uma relação entre a história e a modernidade, de forma sensível e justa, para legitimar o processo de reversão das práticas da intolerância e da violência.

Para combater o preconceito, é preciso conhecer a diversidade. É preciso conhecer o outro para aceita-lo, uma vez que a intolerância se manifesta no individualismo, no egocentrismo.

 

PARTIDO – ESPAÇO VIVO: LIVRE E INTERATIVO

O projeto está baseado na manutenção do princípio de outros edifícios existentes na área da Cidade Universitária, estabelecendo com eles uma relação de continuidade: a criação de espaços internos generosos, interligados através de ruas e caminhos, com o objetivo final de estimular o convívio universitário.

Sendo um dos objetivos do Museu da Tolerância tornar-se um espaço para aprendizagem, o partido arquitetônico implanta seu setor educativo dando contiguidade à Cidade Universitária; enquanto, que em um bloco suspenso, situa suas áreas de exposição.

Entre estes dois setores , um grande vazio se estabelecerá como uma ‘praça de eventos’. Na mesma, ocorrerão atividades diversas, sejam relacionadas ao Museu, ou até mesmo à comunidade em geral. Representa assim um espaço em constante transformação. A ligação desta área à Cidade Universitária se dá através da Avenida Lineu Prestes (pela cota 735,60), deixando-a elevada em relação à rotatória (cota 733.80) e fornecendo assim o isolamento necessário em função do tráfego intenso de veículos desse local. Por se tratar de uma área de livre acesso e circulação, ainda que o museu não esteja em seu horário de funcionamento, este será um espaço de convivência dos universitários, que poderão usufruir o restaurante e o café. Nessa área ainda situa-se a loja do museu, que poderá comercializar materiais condizentes ao meio universitário.

As áreas públicas articulam-se através de uma rede de caminhos e percursos, oferecendo ao visitante uma variedade de opções e propiciando a experimentação de diversas sensações enquanto percorre o lugar.

 

O PROJETO 

As áreas do museu são organizadas ao redor de um grande vazio que perfura todos os pavimentos na área central do edificio.

Na cota 733.60, o setor educativo é caracterizado pela total abertura à comunidade, seguindo o mesmo princípio adotado por edifícios mais significativos da USP. Podendo ser acessado por uma rampa de leve declive com relação ao nível da rua, ou ainda pelo elevador ou escada que interligam os outros pavimentos. A partir do foyer dividem-se as seguintes áreas: biblioteca, laboratórios, salas de aulas, auditório e cinema. O acesso ao auditório e ao cinema se da através de duas rampas transversais ao sentido de entrada.  Biblioteca e laboratórios são abertos e fechados de acordo com seus horários de funcionamento, enquanto auditório e cinema, em função de suas programações. A biblioteca consiste em um grande espaço aberto, e poderá funcionar da maneira que melhor convir à instituição (livre acesso as estantes ou sob consulta). Já o centro de documentação climatizado para microfilmes e laboratório de higienização e restauração de documentos está em um pavimento inferior ao da biblioteca, e são de acesso restrito a funcionários e colaboradores do Museu. O acesso a essas áreas se dá através de uma escada que parte da biblioteca. As salas de aula seguem os conceitos de abertura da USP e deverão funcionar como extensão da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, em especial ao Laboratório de Estudos Sobre a Intolerância (LEI).

Através do setor educativo pode-se acessar o Museu através do elevador ou escadas, após identificação no posto de atendimento do foyer. O usuário ainda tem a opção de dirigir-se ao nível superior (praça) para posteriormente optar pelo acesso às áreas expositivas.

Através do nível da praça também pode-se acessar o Museu, bem como as área de desembarque e estacionamento que encontram-se no mesmo nível. Porem esse espaço funcionará fundamentalmente como um espaço cívico vivo, utilizado pela instituição e comunidade para diversos fins. Esse nível abrigará também o restaurante e o café, que não atenderão apenas freqüentadores do museu, e sim a comunidade universitária em geral. A área de estacionamento também é dinâmica, pois pode ser aproveitada de acordo com a necessidade de configuração de espaço de cada atividade que ocorrer na praça.

Na “caixa suspensa” sobre a praça estão as áreas de exposição. Em seu primeiro pavimento, a área de exposição permanente caracteriza-se por uma rede de corredores de diferentes larguras. Dez caixas “soltas” dentre os corredores abrigarão as exposições permanentes, isoladas umas das outras, e com projetos museográficos específicos pertinentes a cada um de seus temas. O posicionamento das salas sugere um percurso continuo, porém, cada uma delas terá uma identidade distinta, definida pelas diferenças de suas dimensões e de suas próprias montagens, criando ambientes introspectivos. Áreas de descanso interrompem uma seqüência de salas. Serão locais de reflexão sobre as diferentes práticas de intolerância que foram exibidas. O piso dos corredores e áreas de descanso será um gradil que permite a visualização das áreas publicas abaixo e, ao final de cada corredor, dentre alargamentos e estreitamentos do mesmo poderão ser visualizadas áreas externas ao museu. Esses espaços contrapõem-se ao enclausuramento provocado dentro das salas temáticas, estimulando a reflexão do visitante sobre sua relação com o mundo. As redes de corredores têm também uma função técnica, pois dará acesso independente a todas as salas.

O perímetro externo é fechado por uma pele de vidro semi opaco, possibilitando visuais parciais do exterior e criando assim o ambiente introspectivo desejado para o lugar.

No pavimento acima, encontra-se a área de exposição temporária. Um espaço de múltiplo uso, em sua maioria com pé direito duplo, que permitirá diferentes configurações de montagem. Em uma de suas extremidades, uma grande abertura (a Nordeste) oferece vista para a Cidade (área esportiva da USP, Rio Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo), e uma área externa servirá de espaço para descanso e contemplação.

Um mezanino abriga as áreas administrativas e as salas da coordenação.

Finalmente, as áreas técnicas estão divididas em dois pavimentos, que ocupam o vazio deixado entre o cinema e o auditório. No primeiro pavimento, encontram-se a reserva técnica, e áreas de montagem de exposições e reparo, com acesso direto ao monta-cargas/elevador. Já no segundo, estão os vestiários, copa e almoxarifado.

Para o transporte vertical de carga e de pessoas e grupos de pessoas o projeto propõe um único e grande elevador que é ao mesmo tempo um monta-cargasuma vez que os horários de montagem são distintos dos horários de visitação pública, não havendo conflito de circulações nem risco quanto à segurança dos visitantes.

 

A ESTRUTURA 

Um bloco central de concreto apóia duas grandes treliças metálicas, permitindo que o grande vão livre aconteça. Vigas secundarias, vencem o vão de 12m entre as treliças para configurar a estrutura de sustentação do pavimento de exposições permanentes. Sobre as mesmas treliças, apóia-se uma “caixa” de concreto que abriga as exposições temporárias e um mezanino contendo administração do museu. A partir das extremidades no eixo longitudinal dessa caixa estrutural, são atirantadas as vigas (do pavimento inferior) de 6m que configuram as abas laterais da expo permanente.

Sobre a praça, o edifício “flutua”, e na área do restaurante quatro pilares metálicos respondem aos esforços de tração e compressão gerados em função do grande balanço na extremidade oposta do edifício.

A treliça tem altura total de 4,40m e modula-se de 5 em 5m. As vigas secundarias tem 12 e 6m no vão central e nas “abas”, respectivamente. Entre as vigas secundarias, que conferem travamento a estrutura, perfis configuram modulações de 1,5×2,5m que servirão de apoio às placas de gradil que configurarão o piso nas áreas de corredores. O piso das salas de exposição será de laje sobre steel deck.

Dessa forma as áreas de expo permanente configuram-se em um espaço totalmente livre possibilitando as mais variadas formas de montagem de exposições. Já na expo permanente, as salas de exposição encaixam-se a estrutura que corta o espaço. Os pavimentos inferiores estruturam-se através de paredes cortina e lajes nervuradas, possibilitando vãos de dimensões apropriadas aos usos que se propõe.