arq. luciano cersósimo
arq. luiz apolinário
área do lote: 1.670 m²
área edificada: 264 m²
O projeto em Embu busca o enraizamento de conceitos modernistas em fundações culturais e físicas do local, através da utilização de materiais, mão-de-obra, e técnicas e tradições construtivas características da região.
Para tanto, utilizaram-se algumas soluções características da arquitetura brasileira colonial, que no decorrer de séculos foi moldando-se às condições climáticas e aos recursos disponíveis em nossa terra, até chegar a uma linguagem singular de arquitetura perfeitamente adequada a essas condições. No entanto, a edificação não pretende fazer referência à estética da casa colonial, e sim à sua herança pragmática, afastando-a da “arquitetura cenográfica” muitas vezes utilizada em construções da região.
A implantação dispõe a casa perpendicularmente à rua, voltando os espaços para leste e acomodando-a de forma diagonal às curvas de nível, a fim de conseguirmos uma movimentação de terra singela, sem ferir a topografia local. Também em função da vegetação existente.
O programa está disposto em dois blocos paralelos, em cotas diferenciadas por 2,4m.
O bloco superior abriga as áreas intimas e está apoiado no terreno, mas “protegido” deste por um “cinturão” de pedras (como em nossa arquitetura colonial). Na porção leste, as pedras configuram o muro de arrimo e seguem verticalmente até transformá-lo no peitoril das janelas. Os fechamentos dos espaços internos em alvenaria, apoiam a estrutura de madeira da cobertura em uma água, com telhas de barro tipo capa e canal. À oeste está o corredor, que se abre para o terreno através de grandes caixilhos de madeira que formam painéis/mucharabis que ventilam e iluminam esse espaço. O fechamento leste (dormitórios) é feito também através de caixilhos de madeira com o mesmo principio, sendo que a porção superior (separada pela lâmina/beiral) forma uma linha de brises/venezianas móveis que ventilam os quartos. A escada acomoda-se no perfil natural do terreno até chegar à pequena “ponte” que faz a ligação entre os dois blocos.
O bloco inferior abriga as áreas sociais e de serviços. É um pavilhão miesiano montado em estrutura de madeira, suspenso em relação ao terreno, e coberto pelo telhado de uma água (em sentido oposto à do bloco superior) com telhas de barro. A varanda adapta a pavilhão moderno à tradição local, gerando a área de transição entre espaço interno e externo e protegendo a casa da insolação direta.
Buscou-se dessa forma, a seguindo uma tendência contemporânea de arquitetura que pode ser lida como um “modernismo regional”, adequar as exigências feitas pelo cliente à linha conceitual evocada nos projetos do escritório. O peso do projeto esta justamente nesse contraponto: a clareza e funcionalidade da arquitetura modernista montada com materiais disponíveis e tradicionais nas construções locais, lição aprendida de exemplos bem sucedidos da nossa arquitetura.